Participantes do Coletivo Madame – Foto: Reprodução/Instagram
A cerca de setenta e cinco quilômetros da capital do estado, em Seropédica, na Baixada Fluminense, o movimento LGBTQIA+ da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) comemora o avanço das discussões sobre a implementação de cotas para estudantes transgêneros. Graças à luta estudantil, a Universidade com o maior campus da América Latina pode se tornar a primeira instituição de ensino superior do estado a oferecer cotas trans para os cursos de graduação. No momento, a reserva de vagas para pessoas trans passa pela etapa de audiência pública e seguirá para consulta com a Pró-Reitoria de Graduação que levará a pauta ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) que deve aprová-la para implementação.
Mabel Almeida – Foto: Reprodução/Instagram
Aos 23 anos, a estudante de ciências sociais Maria Clícia Almeida, ou Mabel – nome pelo qual é conhecida na Rural – é membra e representante dos estudantes do Conselho Universitário (Consu), e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Segundo a estudante: “Essas duas coisas são o que me colocam no lugar específico de ter essa movimentação para lutar pela cota trans aqui na universidade”. Mabel conta também que a presença da deputada estadual Dani Balbi – responsável por apresentar na ALERJ o Projeto de Lei 214/2023 que reserva 3% das vagas para pessoas trans na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – foi fundamental. As recorrentes visitas da deputada à UFRRJ, o movimento de estudantes LGBTQIAP+ da Rural e o mandato da primeira pró-reitora trans de uma universidade pública do Brasil, Joyce Alves, criaram o alinhamento que proporcionou a oportunidade de luta pela aprovação dessa nova política de permanência.
A partir do desejo inicial de formar um coletivo cultural, Mabel e a drag queen Ametista criaram o Coletivo LGBTQIA+ Natasha Ferrari – ou Madame – que leva o nome de uma companheira de luta. “Tudo encaminhou pra gente fazer um coletivo LGBT.” explica a ativista. Quem conheceu Natasha Ferrari lembra dela por sua luta e altruísmo ao incentivar as pessoas a não terem medo de expressar sua identidade de gênero e a lutarem pelo movimento LGBTQIAP+. Natasha foi a primeira aluna trans do curso de agronomia da UFRRJ, fez parte do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e foi militante da União da Juventude Socialista (UJS). Abandonou o curso por não se sentir respeitada. Com sua empatia, cedia espaço de seu quarto no alojamento M1 para outras pessoas trans e travestis que passavam por algum tipo de violência. Natasha faleceu durante a pandemia em junho de 2022.
“Quando a gente fica falando o tempo todo de ‘ser semente’ é porque a gente sabe que a Natasha ocupou muito esse lugar”. O Coletivo aderiu à luta pelas cotas trans desde sua criação. Motivados pelas propostas da campanha de Dani Balbi, promoveram então a primeira reunião do Coletivo, com a participação de pessoas interessadas. Mabel conta sobre a importância da aprovação da política de cotas trans para o coletivo “A gente aprovar essa cota fazendo campanha através do Coletivo Madame, é honrar a memória da Natasha que lutou muito para se manter viva dentro da universidade, mas morreu sem conseguir se formar e sem ter o seu nome social respeitado”.
Para além das políticas de inclusão, políticas de permanência também são imprescindíveis. Em um ambiente como a Rural, em que muitos estudantes se encontram longe de suas famílias e redes de apoio, é necessária uma coletividade para não desistir “Se você é de um grupo que participa das ditas minorias, é muito necessário que você se organize coletivamente para você não enfrentar as suas violências sozinho”, afirma Mabel.
“Muitas pessoas abandonam não é nem porque não conseguiram permanecer financeiramente, mas porque sofrem violência. E a gente combate violência com informação, né?” – Mabel Almeida
No Brasil, país em que apenas 0,3% dos estudantes universitários de instituições federais se declaram pessoas trans, ações afirmativas de inclusão e de permanência são de extrema importância. Com a implementação de cotas para estudantes trans, a UFRRJ, através da educação, abrirá portas para essa parcela da população que tem sua cidadania historicamente negada “A gente vai ser a primeira universidade do estado a ter essa política aprovada!” Afirma Mabel em tom confiante.
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